Data: 16/03/2020

A lucratividade da aquicultura, principalmente o segmento de peixes, está intimamente relacionada ao tipo de alimentação utilizada. Uma dieta balanceada e rica em proteínas que contenham todos os aminoácidos essenciais levará a um maior desenvolvimento e crescimento destes animais.

Dessa forma, para a formulação de rações para pescados, é necessária a utilização de ingredientes que sejam fonte deste tipo de nutriente e que os mesmos apresentem alta digestibilidade, garantindo um total aproveitamento por parte do organismo.

As farinhas de pena, de vísceras de aves e de proteína de suíno fazem parte de uma categoria denominada farinhas premium, utilizadas como ingrediente na formulação de rações para peixes e outros animais. As farinhas premium são fontes proteicas balanceadas e de alta digestibilidade.

Neste post abordaremos mais a fundo as farinhas premium como ingredientes para a formulação de rações para peixes, apresentando as vantagens de sua utilização e o impacto de tais fontes proteicas na nutrição de pescados.

A importância das proteínas para a dieta dos peixes

Um dos macronutrientes mais importantes para o organismo dos peixes são as proteínas. Por serem parte formadora dos tecidos musculares, a ingestão de proteínas que contenham um balanço adequado de aminoácidos será um dos fatores determinantes para um bom crescimento e desenvolvimento dos pescados.

Ao serem ingeridas, as proteínas são hidrolisadas em aminoácidos, que serão utilizados para a síntese de novas proteínas, com consequente expansão do tecido muscular.

Dentre os aminoácidos disponíveis na natureza, uma parcela corresponde aos aminoácidos essenciais. Esses não são sintetizados pelo organismo e precisam necessariamente serem adquiridos através da dieta.

Portanto, é fundamental que a alimentação dos peixes possua um balanço que contemple todos os aminoácidos que são essenciais para o desenvolvimento dos mesmos. Tal fator deverá ser levado em consideração ao se formular rações para este tipo de animal.

Outro ponto é a utilização de matérias-primas que contenham proteínas e aminoácidos com alta digestibilidade.

Em alimentos com baixa digestibilidade, os nutrientes não são absorvidos pelo organismo, portanto, não cumprem suas funções vitais, limitando as taxas de conversão alimentar do sistema como um todo.

Farinha de pena

As penas de aves são co-produtos da indústria processadora de frango e podem ser utilizadas para a produção de farinha de pena.

Largamente utilizada na alimentação de peixes salmonídeos nas Américas do Norte e do Sul, a farinha de pena é um dos substitutos viáveis para a farinha de peixe, que apresenta um custo bastante elevado.

Porém, ainda há uma certa resistência em alguns lugares do mundo quanto ao uso deste ingrediente, devido à uma crença de que este material possui proteínas de baixa digestibilidade.

É preciso desmistificar esta ideia. Para isso, precisamos entender primeiro o porquê a farinha de pena possui essa fama.

A queratina é a principal proteína que compõe as penas de aves, podendo corresponder a 80% do teor total de proteína nesta matéria-prima. Porém, o organismo dos peixes não é capaz de digerir a queratina em sua forma nativa.

Entretanto, o processamento das penas, através da aplicação de calor e pressão, para sua conversão em uma farinha modifica a estrutura da queratina.

Neste processo, as pontes dissulfeto da queratina são quebradas, tornando as proteínas e os aminoácidos disponíveis para a utilização pelo organismo dos pescados. A temperatura do processo é um ponto crítico de controle.

Temperaturas muito altas formam complexos de diferentes grupamentos de aminoácidos que não são digeríveis pelo animal. Além disso, temperaturas elevadas causam a degradação de proteínas e aminoácidos, diminuindo o valor nutritivo do ingrediente.

Os únicos aminoácidos que não estão presentes, em quantidade expressiva, na farinha de pena produzida a baixas temperaturas são a lisina e a metionina. Esta deficiência pode ser compensada com a adição de sangue à farinha de pena.

Vantagens do Uso da Farinha de Pena

Além de ser mais barata que a farinha de peixe, alguns estudos mostram que a farinha de pena pode apresentar uma eficiência comparável à sua contraparte.

Um estudo comparou a eficiência da farinha de peixe e da farinha de pena na alimentação de camarões e da tilápia. Cada grupo recebeu uma ração baseada em uma das duas farinhas, com o consumo e o ganho de peso dos animais sendo monitorados.

Ao final do experimento, verificou-se que nenhuma das espécies apresentou efeitos negativos em relação ao crescimento com a substituição da farinha de peixe pela de pena. Ambas foram equivalentes em questão de performance.

Como percebe-se, a farinha de pena para a formulação de rações necessita de um rigoroso controle de qualidade para garantir a sua eficácia. É importante escolher um fornecedor que utilize matérias-primas frescas e de qualidade controlada para sua produção, além de condições amenas no processamento.

Dessa forma, garante-se uma farinha de pena com proteínas de alta digestibilidade que afetarão positivamente a lucratividade dos aquicultores.

Já é possível encontrar no mercado farinha de pena e farinha de pena com sangue. Produzidas a partir de matéria-prima fresca, são processadas por cocção sob pressão, cumprindo todos os requisitos de um ingrediente rico em proteínas, contribuindo para uma boa taxa de crescimento em pescados e outros animais.

Outras farinhas premium

Farinha de vísceras de aves

A farinha de vísceras de aves apresenta-se como uma outra opção viável para a substituição da farinha de peixe na alimentação de pescados. As vísceras são co-produtos da indústria de abate de aves e servem como matéria-prima para a produção desse ingrediente. A farinha de vísceras de aves apresenta todos os aminoácidos necessários para o bom desenvolvimento dos peixes.

Para peixes carnívoros, a farinha com baixo teor de cinzas, ou low-ash, é preferível por apresentar uma melhor palatabilidade, alto conteúdo proteico e teor energético similar à farinha de peixe.

Por todas essas características, alguns estudos sugerem que farinhas produzidas a partir de subprodutos de aves podem ser substitutos parciais ou totais para a farinha de peixe, sem nenhum prejuízo em performance. Além disso, promove-se uma diminuição substancial nos custos de produção.

Um estudo utilizou a farinha de subprodutos de aves para substituir parcialmente a farinha de peixe na alimentação de peixes bass. A pesquisa foi feita com base na digestibilidade dos nutrientes e verificou-se que uma substituição de 35% pela farinha de subprodutos de aves permitiu uma performance equivalente à dos peixes que só consumiram a farinha de peixe.

Outro experimento também estudou este mesmo tipo de substituição na alimentação de peixe pargo. Os pesquisadores concluíram que o uso da farinha de subprodutos de aves na proporção de 25% na ração dos peixes promoveu um crescimento similar ao dos peixes que consumiram a dieta controle, com 100% de farinha de peixe.

Farinha de proteína de suíno

Uma outra farinha premium que desponta como uma alternativa para a alimentação de pescados é a farinha de proteína de suíno.

Esse ingrediente é produzido por meio da cocção, prensagem e moagem de pele e máscara suína in natura e de torresmo. A farinha obtida a partir dos subprodutos do abate de suínos também é uma rica fonte de proteínas e aminoácidos essenciais, apresentando alta digestibilidade. O torresmo, por exemplo, possui 14 g de proteína em uma porção de meia xícara.

O consumo deste ingrediente promoverá todos os aminoácidos necessários para o bom desenvolvimento dos pescados.

Tanto a farinha de proteína de suíno, quanto a farinha de vísceras de aves, nas versões standard e low-ash, podem ser adquiridas no mercado. Produzidas em temperaturas brandas que não afetam o teor de aminoácidos e produzem uma melhor característica de digestibilidade, estas farinhas premium são ótimas fontes de proteína provenientes de uma matéria-prima fresca e de alta qualidade.

Conclusão

A alimentação de pescados necessita de um aporte de proteínas e aminoácidos essenciais para um crescimento e desenvolvimento saudáveis dos animais, garantindo negócios mais rentáveis para os aquicultores.

A farinha de peixe é um ingrediente padrão utilizado neste tipo de alimentação, porém, seu alto custo desperta a necessidade de se buscar alternativas mais econômicas, sem afetar a produtividade da criação de peixes.

Para este objetivo, as farinhas premium provenientes de subprodutos do abate de aves e suínos apresentam-se como opções viáveis. Com o tipo correto de tratamento e manejo das matérias-primas, é possível a produção de farinhas que contenham todos os aminoácidos essenciais e que contribuam de forma significativa para um bom desenvolvimento dos pescados.

Conhecer cada uma dessas farinhas e pesquisar informações sobre fornecedores confiáveis é de fundamental importância para formuladores que atuam neste segmento. Uma escolha de insumos de qualidade garantirá proteínas de alta digestibilidade que exercerão suas funções vitais sem nenhum tipo de prejuízo.